Nem todos os pais têm tempo para estudar os grandes livros sobre como criar os filhos. Oleg Batluk, escritor e blogueiro russo vem em socorro desses pais. Suas histórias são um brilhante coquetel de humor e conselhos empiricamente comprovados por um pai experiente.
Seu corpo faz parte das brincadeiras infantis
Eu tenho um pesadelo. Estou acorrentado na praça central e o rei ordena que arranquem meu nariz. O carrasco aproxima-se com um par de pinças quentes. Grito: “É um sonho, tenho de acordar!” Mas por alguma razão não acordo. As sensações parecem ser extremamente reais.
Eu me estremeço e abro meus olhos novamente. Os dedos do meu filho estão metidos no meu nariz. Ele usou minhas narinas para se aproximar de mim.
Você não consegue não se comover
Abro a porta com chave e entro em casa. Meu filho já está correndo da cozinha para o corredor, onde me encontro, gritando: “Papai, papai!” E ninguém o ensinou, empurrou ou dirigiu a cena. Ele decidiu fazer isso de todo o coração.
Como fiquei comovido com isso! Imediatamente dei ao meu filho tudo o que não deveria: meu celular, chaves do carro, óculos.
Se meu filho dissesse naquela época: “Papai, vou me casar com uma boba tatuada de cabelos verdes e toda endividada”, eu responderia: “Bem, filho, vocês vão morar aqui e sua mãe e eu nos acomodaremos no quintal”.
Flexibilidade é a base da proximidade
A trajetória de uma criança é imprevisível. Todo pai sabe disso. Se os adultos não aprenderem a sair de sua linha reta corretamente, correm o risco de nunca cruzar seus caminhos com os de seus próprios filhos.
A cama não é mais sua propriedade
A cena: à esquerda minha esposa dorme, estou à direita e, no meio, nosso bebê. Você adormece e parece que ouve dezenas de fadas cor de rosa voando ao seu redor como borboletas.
Mas a primeira emoção no início da manhã do dia seguinte é a sensação de ansiedade total. Algo irreparável aconteceu durante a noite. Estou pressionado contra a parede do quarto com uma força absurda e monstruosa.
Eu não vejo minha esposa. Onde está minha esposa? Oh, aqui está, enrolada aos meus pés. O que aconteceu aqui por algumas horas? Minha esposa e eu parecemos sofrer as consequências de uma explosão nuclear… E aqui está o epicentro da explosão: ele ainda está dormindo, respirando calmamente, só que agora está sozinho no meio da cama, na posição de uma estrela.
Criar uma criança é uma arte
A criança não é um tambor que você pode tocar um dia e depois esquecer. Uma criança é um instrumento complexo de cordas…uma criança é um violino. Você precisa aprender a tocá-lo. Não aperte demais suas cordas, senão não haverá música; mas também não deixe de segurá-lo.
Não leve a paternidade muito a sério
Alguns pais levam a paternidade muito a sério. Eles a usam como uma coroa e bem pesada. Como se estivessem criando Kim Jong-un, ou outro líder mundial. Na verdade, essas pessoas fazem tudo como se suas ações fossem salvar o mundo. Alguém deveria dizer a elas: relaxe, não é um esporte de alto desempenho. Seus filhos não precisam ser tudo o que você queria, mas não conseguiu ser.
Essas pessoas têm de se alegrar com as conquistas e alegrias de seus filhos, e não se entristecer com suas tristezas.
Não faça do seu filho uma cópia sua
Pensar que o filho de alguém é sua cópia deve ser a maior estupidez de um pai. Seu filho não é você pequeno. É um ser pequeno, mas único. E, quando crescer, não será você. Será ele, mas adulto.
Cada choro contém informações
Meu filho está ao lado de seu assento de criança e grita muito alto. E, mais importante, sem motivo. Bem, não posso mais adiar, é hora de começar a educá-lo.
Explico que seus gritos são irracionais. Ele grita. Eu me mexo habilmente e digo que seu pai é velho e agora vai morrer com seu grito. Grita do mesmo jeito. Finalmente desisto e o convido para se aproximar, para poder abraçá-lo. Continua gritando! Eu explodo e termino o processo educacional com as seguintes palavras: “Bem, fique perto da sua cadeira e grite se você gosta tanto disso!” E ele continua gritando, ainda mais alto do que antes!
Naquele momento, minha esposa corre para fora da cozinha dizendo: “Você não vê?” E ela mostra que o bebê estava preso na cadeira por suas roupas. E o solta.
Seu filho não se importa com sua reputação
Meu filho começou a fazer o seguinte: quando falo com alguém no sofá, meu filho sobe nele, aproxima-se e se agarra nas minhas costas. Com todas as suas forças, começa a bater na minha careca. Ele geralmente faz isso com uma expressão muito séria no rosto.
Para os meus interlocutores é uma surpresa total. Eles começam a rir. E às vezes as conversas são sérias: sobre política ou economia. Com seu desempenho, o pequeno desacredita todos os meus argumentos nas discussões. É claro que posso me consolar com o fato de que a criança se comporta como um monge zen avançado e, com suas ações, mostra-me a vaidade do meu discurso.
Mas toda vez fico triste.
Estenda os limites da diversão
Meu filho é um verdadeiro brincalhão. Pega um pente, dá para mim e ri. E ele faz isso várias vezes ao dia. Ele dá o pente para mim, um cara absolutamente careca. O pente.
…e o amor
Mais cedo ou mais tarde, isso acontece na vida de todo pai. Você tenta se preparar moralmente, mas é como se preparar para um milagre. E de qualquer forma, você enlouquece. Não há outro caminho.
“Eu te amo tanto”, disse meu filho.
Corei tanto que naquele momento que poderia aquecer toda uma cidadezinha. A primeira declaração de amor do seu filho é incrível!
Meu filho estava procurando por mais algumas palavras. Parei de respirar, esperando pela continuação da frase.
“Eu te amo muito”, continuou ele, “quase como Paddington”.
Uma lágrima caiu.
Ser o segundo depois de Paddington é o ápice da hierarquia das crianças que um adulto entediado pode conseguir.
A conclusão é simples: aproveite da paternidade com humor e paciência. Quais segredos você tem sobre educação que fogem do comum?